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sexta-feira, 26 de junho de 2020

UMA CARTA PARA MULHER QUE FUI


Poema Incrível da Ryne Leão. Autora do livro “Jamais peço desculpas por me derramar” Ela escreveu 04 anos depois de sair de uma relação abusiva. O poema foi escrito por ela mas serve para todas nós! Ryane inspira mulheres na internet com o seu instagram "Onde jazz meu coração" e cria textos incríveis sobre amor próprio e empoderamento feminino!Espero que nossas correntezas se espalhem por aí para que mais mulheres escrevam e contem suas histórias.

Maíra Nobre

"te escrevo de uma casa que é confortável
bate sol e tem rede na sala" 




UMA CARTA PARA MULHER QUE FUI

" daqui pegando suas coisas
pra sair dessa casa que nunca te foi lar
sinto vontade de te abraçar apertado
e repetir:

está dando certo
você conseguiu

te convenceram que desistir é uma merda
mas desistir muitas vezes
é o gatilho certo pra renascer
ainda bem que mesmo que por um fio
você foi embora daí

quero te contar que você sobreviveu
que a depressão não conseguiu te comer viva
que as idas frequentes ao hospital pararam
que aquele buraco no estômago
aquele enjôo, aquela rua sem saída
tudo isso cicatrizou
e virou uma marca que inevitavelmente
você veste todos os dias
mas agora isso é um atalho
para que outras mulheres
não precisem pular precipícios
por ninguém

quem diria que a sua história
viraria um mapa pra tantas de nós?

pensando bem você sempre teve
essa fé desmedida
e foi um erro brilhar tantas vezes
pra iluminar escuridões que nem eram suas
mas isso te fez virar galáxia

desde pequena você transforma
caos em estrelas

você ainda não se deu conta
mas é o seu corpo que te fará companhia
pro resto da vida
e só saber disso já faz dele algo tão poderoso
você está fraca agora
e continuar dói pra cacete
mas liberta
quero contar que você vai conseguir olhar no espelho
e enxergar um rosto cheio de linhas
e que você finalmente vai conhecer
gente que te lembra que você é linda
e que não é difícil te amar
vão haver muitas despedidas
pra abrir lugar pra essas novas pessoas
é cíclico

há livros morando em cada uma de suas expressões
livros que contam sobre a resistência
de uma mulher que é uma em muitas
muitas em uma
você é sua prioridade
e não há egoísmo nisso

não tenha pressa
todo processo curativo
não é tão rápido
ou tão bonito assim
e vai ver se curar é algo diário
tem dia que dá e tem que dia não dá
e tudo bem

é possível amar depois da dor
mas serão amores diferentes de tudo que você ja sentiu
porque amar também é perspectiva
e existe diferença entre amar sendo segundo plano
e amar sendo protagonista

te escrevo de uma casa que é confortável
bate sol e tem rede na sala
e te conto que você escreveu um livro
que tem feito mulheres abandonarem silêncios
você conheceu a dor cedo demais
pra que agora pudesse existir
em paz." 

ryane leão

#ondejazzmeucoracao


segunda-feira, 22 de junho de 2020

Lee, Free!


Belas colocações da nossa Rainha do Rock! A transgressora Rita Lee! Num contexto de ditadura, censura e opressão, sobretudo com as mulheres, se atreveu a compor músicas que retratam figuras femininas independentes, inteligentes, provocadoras e donas da própria sexualidade. Suas musicas são um Legado para o mundo!

Rita é sempre moderna!

Viva o amor! Viva a transgressão, viva o rock, Viva Rita!


RITA LEE- mais uma vez, dizendo muito!

“Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinham da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de não ser mais Virgem e os irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi à janela, nunca mais dançou nos Bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.
Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou vestígios himenais dilacerados, e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor, para se esquecer do mundo. Realmente, esqueceu, morrendo tuberculosa.
Estes episódios marcaram para sempre a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres? Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar. Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos. Todos vimos, na televisão, modelos torturados por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba. Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem iirresistíveis diante dos homens. E, com isso,Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres - as baixinhas, as gordas, as de óculos - um sentimento de perda de auto-estima.
Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composto de moças. Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa científica, na política, no jornalismo. E, no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.
Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque elas são desarmadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por pistolas, revólveres, flechas, espadas e punhais. Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espadas.
Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência. As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.
É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o país nas costas.
São as mulheres que irão impor um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e a doçura de seus corações.
Nem toda feiticeira é corcunda. Nem toda brasileira é só bunda.”
Rita Lee.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Parabéns Chico!

Hoje Chico Buarque comemora 76 anos de vida! Tanta vida, amor e poesia numa só carreira! Acho genial essa capacidade que ele tem de trazer em sua música uma poética de intervenção política assim como romper os limites conservadores que amarram o prazer, o afeto, o desejo e a paixão. Tenho muitas músicas favoritas, coloco aqui “ Tanto amar”. Lembro da menina que balançava na rede com seu Pai, na varanda da casa de Canoa Quebrada. A trilha sonora era o Chico e o assobio do seu Pai. Reverencio também a mulher com seus arquétipos de Deusa que dança nos salões da Biodança cheia de sensualidade e prazer de viver! Gratidão Chico! 

Tanto Amar

Chico Buarque


Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita
Tem um olho sempre a boiar
E outro que agita
Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E outro olho a me arregalar
Sua pepita
A metade do seu olhar
Está chamando pra luta, aflita
E metade quer madrugar
Na bodeguita
Se os seus olhos eu for cantar
Um seu olho me atura
E outro olho vai desmanchar
Toda a pintura
Ela pode rodopiar
E mudar de figura
A paloma do seu mirar
Virar miúra
É na soma do seu olhar
Que eu vou me conhecer inteiro
Se nasci pra enfrentar o mar
Ou faroleiro
Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela acredita
Tem um olho a pestanejar
E outro me fita
Suas pernas vão me enroscar
Num balé esquisito
Seus dois olhos vão se encontrar
No infinito
Amo tanto e de tanto amar
Em Manágua temos um chico
Já pensamos em nos casar
Em Porto Rico